quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

KAFKA VEM KAFKAR COMIGO

   Uau, ajudei um amigo a fazer uma tarefa num curso de interpretação de textos, sobre A Metamorfose de Franz Kafka e acabei me interessando pelo livro, tão conhecido mas que ainda não tinha parado para ler. Fazendo um trocadilho com o conteúdo do livro, a tarefa trazia o título "Ler é um barato". Escrevi o seguinte texto:    

  Ler é um "Barato". Ou mais especificamente, no caso de "A Metamorfose?" de Franz Kafka, uma barata.
   

  A primeira vista, o livro causa estranheza. Um homem que ao se levantar percebe que se transformou em um inseto gigante. O que o autor quer mostrar com isso? O próprio título do livro dá uma pista do que pode ser interpretado a partir de sua leitura: metamorfose ou transformação. A despeito das trasnformações biológicas que diversos seres passam e apesar de absurda, a transformação relatada no livro  é uma marca do inusitado querendo contar uma história. Nenhum ser humano foi transformado em barata, ou qualquer coisa do tipo, mas quem não passou por diversas etapas da vida? Quem nunca olhou pra trás e pensou "Meu Deus, eu já fui assim?". As transformações são diárias, constantes e em vários aspectos: físicas, psicológicas, ideológicas, etc. Um ponto interessante que gostei numa leitura superficial do livro foi um recurso de ironia utilizado pelo autor, quando o personagem principal, metamorfoseado numa barata gigante pensa num conhecido e se refere a ele como "invertebrado". Nesse exemplo, podemos ver que a palavra invertebrado pode ter vários significados, pois invertebrada é a barata, mas também o conhecido dotado de pouca inteligência.
A medida que Gregório vai se adaptando a essa nova forma de ser, no corpo de uma barata, sua família vai se tornando cada vez mais estranha, neurótica. Prendem Gregório em um quarto, passam a alimentá-lo apenas com restos de comida e comida velha (já que seu organismo não tolera mais comida comum) e quase não mantêm nenhum tipo de comunicação com o filho. Depois de uns dois meses, Gregório já não vê mais o mundo da mesma maneira e descobre o prazer de deslizar pelas paredes e ficar de cabeça para baixo no teto. Sua irmã percebe o novo esporte de Gregório  e decide tirar a mobília da sala para que o barato possa andar mais livremente. Mas Gregório, com o que lhe sobrava de consciência humana, se exaspera ao perceber que toda a mobília está sendo tirada do quarto onde agora vive confinado. Seus trabalhos, seus pertences, tudo aquilo que ainda o lembrava de que um dia já fora humano! O que Kafka quis dizer com esses pais repressores, que aprisionam o filho metamorfoseado, o forcando a cada vez mais se tornar um inseto? Creio que os pais de Gregório representam a sociedade, as autoridades e todo o mundo externo, obrigam a viver uma vida falsa, uma vida rastejante, pegajosa, invertebrada e longe daquilo que realmente somos.
   Gregório corre de seus pais, que nesse novo corpo, o tratam apenas com violência, quando o açoitam para seu cativeiro. E o que somos nós, cidadãos urbanos contemporâneos? Não vivemos numa corrida pelos prazos de entrega de trabalhos? Pelo horário do serviço que não podemos perder senão  não há  contas pagas no fim do mês? E se não há contas pagas no fim do mês, há cobradores ou mesmo polícia, e mais corrida. Correr, correr, correr. Não estamos correndo no sentido de nos tornamos baratas como Gregório?
Por um momento, no final do livro, Gregório sente que a música tocada pelo violino da irmã poderia lhe restituir a humanidade, mas sua aparência já é tão repugnante que sua família decide expulsá-lo de casa antes que tenham maiores problemas. Exausto e desajustado a sua nova e bizarra condição, Gregório acaba morrendo e então sua família se vê livre para prosseguir com a vida.
 Um final triste que a meu ver demonstra como a sociedade é doentia. Enquanto Gregório era humano e sustentava a família ele era bem quisto, mas após sua metamorfose, quando ele se torna um bicho completamente diferente e praticamente inválido, os interesses e o tratamento que a família lhe dispensa passam a ser completamente diferentes.  O que são Gregórios na nossa sociedade, além dos excluídos, das minorias, dos diferentes, caídos, rejeitados? E o que o Estado, Governo ou Sociedade fazem com  os Gregórios?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sarinha e os quadrinhos!

Sarinha, minha filhinha de sete anos já é uma colecionadora nata de HQ's.

Ela curte Turma da Mônica, claro, como toda criança brasileira com infância legítima! Mas também já a incentivamos a descobrir coisas novas, pra idade dela. Experimentei dar pra ela Meninas Superpoderosas, Scooby-Doo, e o Sesinho que é uma produção educativa e nacional, mas ela gosta mesmo é dos personagens de Maurício de Sousa:

- Sabia que o Maurício existe mesmo e tem duas filhas, uma chamada Mônica e outra Marina?
- Sabia Sarah. Legal, né?
- É.

Achei bacana ela saber o detalhe de que a filha do Maurício é a Marina, que é mais recente e bem menos conhecida, em vez da Magali. Ela dá informações precisas (parece até que puxou alguém que sabe todos os números e histórias dos X-men já publicados no Brasil...). Outro dia ela deixou a coleção, que já é a maior da cidade dela, meio bagunçada, deixou rasgar a página de um gibi. Essa página ficou vários dias no chão da casa dos avós dela. Um dia o avô a apertou um pouco e falou pra ela dar um jeito naquela página solta. Ela olhou para o avô e disse:

- Essa página faz parte daquela edição com a capa tal.
- Duvido.
- Ora, eu te mostro.

E era mesmo. Ela tá monstrinha na esperteza, já! E a inteligência associativa que ela tá desenvolvendo? Não tá no gibi! (Ou será que está?).

Observar minha filha se desenvolvendo tão bem e com ajuda de HQs me provou que Histórias em Quadrinhos são sim uma forma de arte e de literatura! Pode ser pop e é um gênero que possui um universo próprio, com coisas boas e coisas ruins, coisas educativas e coisas banais... Enfim, um universo em si.  Mas perdi a vergonha de vez, sou fã de quadrinhos, gosto mesmo com 29 anos e não tenho problemas com isso. Defendo os quadrinhos de qualquer pseudointelectual que queira pousar de sabichão e dizer que isso é coisa de criança. É também, nessa simplicidade tem muito o que oferecer, para adultos e crianças!

Assim como eu, minha filha tá mostrando ter a mesma afinidade, gosto com palavras! (Putz eu babo por essa menina desde que ela nasceu, também não tenho vergonha nenhuma de admitir isso). Ela parece ter uma espécie de dom também, já vi isso manifestado algumas vezes. A última dela foi assim:

Eu estava mostrando umas fotos que fiz aqui em Minas Gerais e aí mostrei a ela uma foto de uma estátua de lobo-guará. Ela nunca tinha visto o lobo, só ouviu falar. Ouviu alguém comentando na televisão, mas me disse que nunca tinha visto. Aí fiquei falando pra ela coisas sobre o lobo e tal. De repente ela levanta e cata uma revistinha da Mônica, abre numa página e aponta:

- É isso aqui né?

Não havia nenhum desenho do Lobo Guará no gibi, apenas a Mônica falando... A Sarah apontou direto pra palavra dentro do balão.

Embabascado, olhei pra ela e disse:

- É, Sarah, isso aqui que estou te mostrando é isso que a Mônica tá falando.

Ela resolveu agora contabilizar as próprias revistinhas. Me contou que já colecionou 190 HQs da Mônica. Aí cheguei meio com jeitinho e disse pra ela, só pra ver a reação:

- Então, que bom.... Eu tenho 450, mas os meus são de gente grande. Mas estão todos arrumadinhos, conservados. Você pode comprar uns plásticos pra preservar melhor.

Ela me olhou com uma expressão, mas uma expressão.... Não tem muito como descrever, mas ela fez uma cara tão engraçada, curiosa, deslumbrada, espantada e feliz ao mesmo tempo! Acho que naquele exato momento passou pela cabeça dela:

- Nossa, uma versão masculina e grande de mim!

TE AMO GIGANTE SARAH!!!